O mercado de cacau fino, um produto de alta qualidade que exige tempo, cuidado e dedicação na produção, enfrenta um momento crítico. A alta do preço do cacau comum, de produção mais rápida, está levando muitos produtores a abandonarem o cacau fino em busca de lucro imediato.
Cacau Fino vs Cacau Comum: Detalhes que fazem a diferença
Cacau Fino: Um processo meticuloso que leva até mais de 20 dias, desde a colheita seletiva de frutos maduros e sádios até a fermentação, secagem e armazenamento cuidadosos, resultando em um sabor único e marcante.
Cacau Comum: Uma produção mais rápida e menos exigente, geralmente pronta em apenas 5 dias, com sabor inferior e menos apreciado.
O Dilema dos Produtores: Qualidade ou Lucro Imediato?
Em um mercado volátil, onde os preços oscilam diariamente, a espera pelo retorno do investimento no cacau fino pode ser arriscada. O produtor, já fragilizado por anos de baixos preços, muitas vezes cede à tentação do lucro imediato e vende o cacau comum, mesmo que isso signifique abrir mão da qualidade e da identidade do produto brasileiro.
As Consequências para o Futuro do Cacau Fino
Redução da Oferta: Com menos produtores investindo no cacau fino, a disponibilidade do produto diminui, impactando diretamente as marcas que prezam pela qualidade e pelos chocolates artesanais.
Perda da Identidade: O ciclo virtuoso que se formou em torno do cacau de alta qualidade, com marcas que valorizam a origem, a história e o sabor único do produto, corre o risco de ser quebrado. O cacau fino é um símbolo da nossa cacauicultura e sua perda representaria um duro golpe em todo o segmento Bean-to-bar que se formou nos ultimos anos.
Soluções para Garantir o Futuro do Cacau Fino
Para garantir a sobrevivência do cacau fino e preservar toda identidade do chocolate com alto teor de cacau e mais saudáveis é necessário um esforço conjunto:
Conscientização dos Produtores: É fundamental que alguns produtores mantenham o foco na qualidade, mesmo em um mercado desafiador. Dedicar uma parcela da produção, mesmo que seja pequena (5% ou 10%) ao cacau fino, é crucial para garantir a sustentabilidade do mercado.
Apoio das Marcas: As marcas que valorizam o cacau fino precisam se unir aos produtores para garantir a oferta do produto e a qualidade do chocolate artesanal. Isso pode ser feito através de contratos de longo prazo, programas de fidelização, preços justos e iniciativas que promovam o consumo consciente do chocolate de alta qualidade.
Incentivos Governamentais: O governo pode contribuir com políticas públicas que incentivem a produção de cacau fino, como crédito rural com taxas de juros mais baixas, subsídios para pesquisa e desenvolvimento de novas técnicas de cultivo, programas de qualificação profissional para os produtores e ações de promoção do cacau fino no mercado nacional e internacional.
Um Exemplo Inspirador: A Coopercabruca
A Coopercabruca, em um cenário desafiador, se destaca por sua atitude proativa e solidária. A cooperativa está convocando seus produtores a manterem o mínimo possível da produção de cacau fino para atender o mercado bean-to-bar.
Segundo Orlantildes Pereira, diretor-presidente da Coopercabruca:
"O segmento Bean-to-bar se formou e promoveu uma melhora da qualidade do cacau brasileiro em busca de melhores preços no período em que o preço do comum estava em baixa. Não podemos abrir mão do que foi construído até agora sobre cacau fino e nós estamos buscando convencer a alguns dos nossos cooperados a continuarem produzindo uma parte de suas amêndoas como exige o padrão bean-to-bar."
Que outras cooperativas e produtores possam seguir a iniciativa da Coopercabruca para que as marcas Bean-to-bar continuem produzindo seus chocolates com alto teor de cacau e sabores marcantes, dando continuidade a todo ciclo que foi construído nos últimos anos em torno do cacau fino (cacau de qualidade superior).
Por Ney Marçal (Produtor de cacau e Diretor da TV CACAU)
Nenhum comentário:
Postar um comentário